domingo, 21 de março de 2010

Idos de Março

Verdes anos, amadurece em flor
quem combate com ardor...

A tua sepultura não tem nome, por isso não o posso mencionar. Mas peço a todos os ouvintes que respeitem o teu nome, e a história que se vai aqui contar.
Foste feto e depois Homem, trabalhaste no campo desde o dia em que começaste a andar. Com a enxada ganhaste músculos e corpo feito. O teu pai morrera em combate deixando-te a ti, à tua mãe e à tua irmã. Um dia vieram-te recrutar, levaste a espada e o escudo do teu pai e prometeste voltar à pequena aldeia que te viu partir. Mais um soldado menos um homem.
Embarcaram-te para longe, terra distante. Disseram-te "Mata ou morre." e tu aprendeste. Tinhas por teus companheiros, compatriotas que juraram "Um por todos, todos por um!" Eras qual romano no combate sem perecer por inimigo , vibrante e flamejante tratando o escudo como amigo. Eras belo, alto revigorante. Calejado nas mãos de espada, o teu lugar era na frente de combate e oh soldado admirável era de te ver combater!! Pelejando e defendendo com honra. Sobreviveste ao primeiro, ao segundo, ao terceiro combate. De noite ofereciam-te vinho e mulheres mas tu nunca lhes tocaste. Compraste papel e pena e gostavas de escrever. Mas não escrevias palavras sanguinárias , descrevias os lugares por onde passavas, os animais e as pessoas.
A tua fama assim como a tua sobrevivência espalhou-se e já sonhavas numa morte em glória como comandante, mas demasiado cedo despertastes quem era menor que tu.
Certa noite foste surpreendido por mão amiga, entrou na tua tenda e feriu-te de espada no peito, olhos nos olhos esperava a tua partida deste mundo para o outro, por invejas desconhecidas. Morrerias assim tu, guerreiro? Sem epítetos nem odes, nem uma única ode a teu respeito. Assim surpreendido, indefeso. Desafiavas o teu inimigo de frente sem perguntas nem respostas que o tempo que te restava era curto. A vida que palpitava em ti esfumava-se e tu pensavas o que seria do teu corpo. Desfalecido não conseguias fechar os olhos para o mundo. Um bravo soldado tombara. O teu carrasco traiçoeiro escondeu o seu feito assim como o teu corpo para que não dessem jamais contigo. Fica sabendo agora que foste atirado para o rio e putrificaste comido por todos os tipos de animais, e assim mais ninguém soube de ti, nem tua mãe nem tua irmã. A vergonha caiu sobre a tua família porque todos te julgaram fugido. As gerações seguiram-se e já ninguém se lembrava de ti, ou sequer sabiam que um dia tinha existido soldado corajoso como tu. Mas uma centelha anímica perdida no tempo e no espaço, um clamor de "vinga-me" chegou até mim.
E por isso contei a tua história, bravo soldado para que ninguém se esqueça nem daqui a mil anos.

1 comentário:

Jo Iúri disse...

Bibolita em grande nível!*****